- Eu não faria isso se fosse você.
- Mas você viu como ele gritou comigo na frente de todos?
- Ele é seu chefe, está pagando pelo direito de te humilhar.
- Isso é um absurdo! Eu tenho os meus direitos! Não deixarei barato dessa vez. Chega!
- Pensa bem, cara. Você tem família… Vale mesmo a pena criar essa confusão toda?
- Sei lá… Eu não fiquei anos estudando e ralando pra ter de engolir desaforo de idiota rico! Tenho o meu orgulho…
- Assalariado pobre não tem esses luxos de orgulho, não… Vai por mim, melhor esquecer.
- Se põe no meu lugar, caralho! Vou me sentir um verme se não fizer nada.
- Seja sensato, meu… Vai pra casa, tenta esfriar a cabeça… Amanhã será um novo dia, você vai ver.
- Valeu pelos conselhos, cara. Mas eu preciso mesmo fazer isso! Vou entrar naquela sala e dizer umas verdades na cara daquele babaca e dos seus bajuladores!
Encheu o peito com uma coragem duvidosa. Os músculos da face enrijeceram-se e a mente iniciou um ensaio compulsivo do discurso. Depositava em cada passo uma parcela de sua masculinidade.
O caminho mostrou-se mais penoso que o imaginado. A DEMISSÃO. A família. A VIDA. Os sonhos. A FRUSTRAÇÃO. A humilhação. O DESESPERO. (!)
A por-ta.
Apressou-se a fim de evitar arrependimentos inoportunos e, na sala, todos já haviam ido embora. (Ufa!)
C.S.S.