parecia um estojo qualquer. nele havia lápis azuis e vermelhos, separados de forma organizada – cada um sabia exatamente a parte da gravura que requeria sua cor.
ansiedade a cada lápis recém-chegado – o apontador – e a ponta logo revelada. o acolhimento pelo grupo era imediato e não tardava o início de suas atividades.
até que
– não pode ser! – um lápis recém-apontado desapontou a sociedade do estojo.
à
cor desconhecida deram nome de amarelo e disseram que ela não poderia pertencer
àquele estojo, que certamente teria havido um engano.
o
pobre amarelo – sem meios de se mudar de estojo – havia já se conformado com
suas gravuras monocromáticas quando – subversivamente – um azul aventureiro se
ofereceu para um dia de trabalho em conjunto.
a
inexperiência do pobre amarelo – que não havia aprendido a respeitar os
contornos da gravura – misturou sua cor com a do azul aventureiro e – não pode
ser! – nenhum dos dois se reconheceu no serviço feito. à nova cor deram o nome
de verde, mas o medo de represálias manteve a descoberta sob absoluto sigilo.
não
demorou, contudo, para que o grande feito fosse descoberto por um vermelho
curioso. temendo ser delatado, o azul aventureiro pediu ajuda do pobre amarelo –
que ofereceu suas gravuras monocromáticas ao vermelho curioso para que ele não
divulgasse a descoberta ao restante do estojo.
o
vermelho curioso – que não era bobo nem nada – pegou as gravuras do pobre
amarelo e – reafirmando que aquele estojo não era o seu lugar e objetivando
ocultar o pobre amarelo – espalhou sua cor pelas gravuras monocromáticas e –
não pode ser! – ele não reconheceu no resultado o seu vermelho e nem o pobre
amarelo. à nova cor deu o nome de laranja e a condenou ao absoluto sigilo –
quebrando as pontas do pobre amarelo e do azul aventureiro.
não
demorou para que os azuis, solidários à ponta quebrada do aventureiro,
decidissem aniquilar os vermelhos indesejados do estojo. durante a luta, várias
pontas se quebraram e caíram sobre as gravuras ainda por pintar. o atrito das
pontas quebradas sobre o papel – não pode ser! – havia resultado em uma nova
cor – à qual deram o nome de roxo.
o
sentimento de culpa pela quebra das tradições tornou-se, então, generalizado –
e o que é geral não discrimina, ocultando-se sob o lenço do irrelevante.
ficou mais bonito! disseram todos os lápis do
estojo, num coro colorido que gravura nenhuma colocaria defeito.
C.S.S., aprendendo a pintar