sexta-feira, 5 de novembro de 2010

...


-1-

O que eu sinto ninguém sabe, não tem cheiro nem sabor.

Veio nascendo escondidinho, não deu frio e nem calor.

E agora eu me pergunto

Quem é você ai atrás

Que não pediu licença

E tomou a minha paz

Numa garrafa de dois litros

Que nem light era.

-2-

O que eu quero nem eu sei, não tem tempo nem lugar.

A dúvida é um presente, não tenho a quem culpar.

E agora eu me pergunto

Por que diabos busco a culpa

Se com ela eu quero junto

Tudo o que nunca quis.

Porque querendo eu não tive

E tendo eu desisti.

C.S.S.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Luciana



Luciana Prado Queiroz da Fonseca tinha 25 anos quando se casou. Filha única de família rica e tradicional, frequentara os mais renomados colégios, aprendera a tocar piano e a fazer bico para o francês. Andava nos melhores carros e vestia as melhores e mais caras roupas. Era vaidosa. Desde criança ensinaram-lhe métodos infalíveis para disfarçar imperfeições faciais e jamais amarrotar a roupa. Era educada, embora economizasse simpatia com empregados. Aos 28 anos, seu marido pediu-lhe filhos. Tiveram dois meninos e uma menina, que foram educados conforme a tradição familiar. O marido não lhe negava caprichos e os filhos eram comportados e carinhosos. Formavam uma bonita família. Mas a felicidade não tinha espaço no cotidiano de Luciana. Os cuidados constantes e doentios com a aparência afastaram os filhos e o marido. Aos 42 anos, em uma das várias cirurgias de embelezamento, Luciana morreu. Deixou filhos pequenos, pais inconformados e marido rico. Luciana também não levou sua coleção de bolsas, seus sapatos italianos, suas jóias encomendadas e seu corpinho esculturalmente trabalhado pelos melhores cirurgiões do mundo. Luciana levou saudade e arrependimento. Mas descansou em paz. (pelo menos as rugas e as celulites ficaram).

C.S.S.