sábado, 27 de julho de 2013

xywatef


- E então, consegue ler?
- Sim, mas está embaçado...
- E agora, melhorou?
- x y w a t e f... 
- Certo. Seu grau aumentou um pouco, nada significativo. Já pode fazer a cirurgia, se quiser.
- Por que x y w a t e f?
- Como?
- Por que essas letras? Quem as escolheu?
- Não sei.
- Há quanto tempo o Sr. é médico?
- 28 anos.
- E nunca parou pra pensar nessas letras, no porquê de cada uma?
- São apenas letras. O importante é identificá-las corretamente.
- Não seria ainda mais importante se elas fizessem algum sentido?
- Elas fazem! Através delas podemos verificar a acuidade visual dos pacientes.
- Isso não é sentido, é objetivo.
- A ciência trabalha com objetivos.
- Sinto muito.
- Pelo quê?
- Essas letras não têm sentido, apenas objetivos.
- Ter objetivos não é bom?
- É, mas quando não fazem o menor sentido, não.
- Eu acho que fazem sentido.
- O Sr. poderia ajudar o amor. 
- Ajudar o amor? Como assim?
- Dizem que o amor é cego, eu o considero apenas míope. Uns óculos cairiam bem, mas com a devida cautela. O amor é cheio de sentidos e sem qualquer objetivo. E essas letrinhas só têm objetivos a oferecer. 
- Nasceram um para o outro então.
- Isso só uma consulta poderá dizer.
- Você é engraçada...
- Não, sou apenas uma míope tentando lidar com alguns objetivos e vários sentidos.
- Aqui está sua receita com o novo grau.
- Obrigada. Tenha um bom dia.

C.S.S., a cada dia mais míope

terça-feira, 9 de abril de 2013

salamê minguê


Se são tantos os quereres
E tão poucos os porquês
Por que tantos saberes
Se não sei dizer pra quê? 

C.S.S., sem saber

uni duni tê


A cada escolha morre em mim a parte que escolheu não optar.
Sobrevivo em cima de cadáveres.  

C.S.S., suicidando-se mais uma vez

quinta-feira, 7 de março de 2013

1/4


1/4 de século,
300 meses,
9.125 dias,
219.000 horas
sendo eu (ou tentando ser algo bem distante disso)

Tô exausta.  

Tirando os momentos de choro infantil,
os dias dedicados aos amores platônicos e,
minha nossa,
as longas horas em vídeo games e televisões,
o que me resta? 

Não aprendi a esquecer.
Nunca resolvi ou superei qualquer coisa.

A lucidez é minha droga,
uso-a em dosagens desreguladas e irresponsáveis
que há anos tem condenado à abstração
precários e pretensos talentos,
apesar de frágeis alegrias.

Aos 25,
sem saber ou entender,   
resta-me a saudade do futuro
escondido no presente
que o passado sonhou. 

C.S.S., 25 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Ao Lavoisier nosso de cada dia


Algumas combinações precárias de letras e as primeiras lições nunca tardam a chegar. Entram pela porta da frente, trancam as janelas.

Eternamente vinculada às ideias que me são transmitidas, penso a partir de pressupostos e premissas, caminho por métodos.

Mas que se dane a teoria do meu referencial, e que se percam nas cinzas da inutilidade todas as normas e regras!

Quero habitar o avesso das argumentações, percorrer uma estrada que não me leve a lugar nenhum!

Quero antes de tudo um pensamento virgem, insano, sem títulos e rumos pré-determinados! Um pensamento por vezes pequeno, mas meu.

C.S.S., de saco cheio