- E então, consegue ler?
- Sim, mas está
embaçado...
- E agora, melhorou?
- x y w a t e
f...
- Certo. Seu grau aumentou um pouco, nada significativo. Já
pode fazer a cirurgia, se quiser.
- Por que x y w a t e
f?
- Como?
- Por que essas
letras? Quem as escolheu?
- Não sei.
- Há quanto tempo o
Sr. é médico?
- 28 anos.
- E nunca parou pra
pensar nessas letras, no porquê de cada uma?
- São apenas letras. O importante é identificá-las
corretamente.
- Não seria ainda mais
importante se elas fizessem algum sentido?
- Elas fazem! Através delas podemos verificar a acuidade
visual dos pacientes.
- Isso não é sentido,
é objetivo.
- A ciência trabalha com objetivos.
- Sinto muito.
- Pelo quê?
- Essas letras não têm
sentido, apenas objetivos.
- Ter objetivos não é bom?
- É, mas quando não
fazem o menor sentido, não.
- Eu acho que fazem sentido.
- O Sr. poderia ajudar
o amor.
- Ajudar o amor? Como assim?
- Dizem que o amor é
cego, eu o considero apenas míope. Uns óculos cairiam bem, mas com a devida
cautela. O amor é cheio de sentidos e sem qualquer objetivo. E essas letrinhas
só têm objetivos a oferecer.
- Nasceram um para o outro então.
- Isso só uma consulta
poderá dizer.
- Você é engraçada...
- Não, sou apenas uma míope
tentando lidar com alguns objetivos e vários sentidos.
- Aqui está sua receita com o novo grau.
- Obrigada. Tenha um
bom dia.
C.S.S., a cada dia mais míope
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