segunda-feira, 2 de novembro de 2009

a cutucadela final


A vida do poeta era por todos invejada.
Mulheres não lhe faltavam e o reconhecimento futuro pelos versos bem estruturados era certo.

(E o ogro dormia em sono profundo)

O poeta gostava de sair no frio dolorido da cidade nórdica e sentir as bochechas queimarem. Tinha amigos para todos os dias do ano e a cada um já havia dedicado preciosos arranjos de palavras.

(E o ogro em sono profundo)

Versos simples bastavam para o pão de cada dia e a vida do nosso poeta parecia estar completa.
Mas havia o ogro, (e o sono profundo).

Não satisfeito em ler seus sonhos e pesadelos, o poeta decide acordá-lo com seu arsenal [infalível] de boas poesias.

Suas cutucadelas rapidamente surtem efeito e já não há mais, (o sono profundo).

O ogro, desperto e furioso, inicia sem dificuldade a destruição dos aparentemente ousados versos do poeta para que, por um momento, pensemos em suicídio de palavras.

(Mas a vida não vence aquele que vive, vence?)

uma última cutucada no coração e ele cai
[vencido]
no chão.
C.S.S.

2 comentários:

  1. O que será que levou o poeta a acordar o Ogro?
    Se em sono profundo, creio que nosso amigo verde vislumbrava um sonho pelo qual jamais queria acordar, um sonho que o fazia feliz, ainda que na ilusão do seu pesado cochilo... E por que, então, Poeta, você o acordou para a sua realidade?
    Nos sonhos, cada ser tem lá os seus, cada um sabe a sua felicidade à sua maneira. Logo, Senhor Poeta, nada de ficar cutucando os sonhos dos outros!

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