Mal
sabia o que lhe esperava a pobre semente de Gossypium
barbadense L., vulgo algodoeiro. Sem tempo para se conscientizar acerca das
possibilidades da vida, foi abruptamente imersa em terra fofa. Paralisada com a
escuridão, sentiu a umidade de seu cativeiro lhe puxar ramificações por todo o
corpo, fundindo-se com seu algoz.
Do
medo fez-se a força, e a pequena semente não demorou para tornar-se broto. Cresceu
com folhas largas e floresceu uma felicidade bonita de se ver. Durou pouco.
Ainda
lamentava as flores caídas no chão quando percebeu que cápsulas grandes e
verdes permaneciam em seus ramos. Sentiu o sol amadurecê-las para logo
explodirem em algodão branco.
Ainda
sem entender tudo o que lhe acontecia, a pobre semente – que já não era mais
semente, em que pese ainda pobre – conheceu a colheitadeira de algodão, que
veio e foi rápido, deixando para trás galhos, folhas e solidão.
Descaroçado,
seco e escovado, o fardo tornou-se fibra. Após urdiduras e tramas, fez-se o
tecido e a camisa 100% algodão do Sr. Ubaldo.
Se
vivo, Sr. Ubaldo provavelmente não escolheria aquela camisa – mas sua digníssima
esposa o queria bonito para a despedida. Comprou camisa e sapatos novos, que
foram imersos – juntamente com o Sr. Ubaldo – na mesma terra fofa de nossa
pobre semente.
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