sábado, 29 de agosto de 2015

Quanto pesa a sua mochila?


A palavra que precisava ganhar som, mas que permaneceu presa nos fundos empoeirados e ressecados da garganta. A oportunidade perdida. O choro que não conheceu a lágrima e apenas sufocou.  

Perdi as contas das vezes que me calei diante de situações que efetivamente me machucaram. Elas aconteceram no trabalho, em casa, nos relacionamentos, na rua, nos mais variados horários, através de palavras ou um simples olhar.

Muitos estudiosos já alertaram acerca da importância de falar sobre sentimentos, de se expressar. Dica óbvia, mas pouco factível. Pelo menos pra mim. Pelo menos para aqueles e aquelas que, como eu, dificilmente conseguem raciocinar diante da dor ou que, em momento de rara reflexão, mantêm as palavras em cárcere privado, limitando-se a angustiar o peito e intensificar (ainda mais) o sofrimento.

Sofrer não é exclusividade minha, nem sua. O que fazemos com nossa dor, isso sim pode ser um diferencial.

Nossos sentimentos estão conectados aos estímulos externos, não é novidade. O grande problema acontece quando não estabelecemos a diferença entre o que o outro faz e o que isso provoca em nós. O que é dito e o que compreendemos a partir disso.

O possível destinatário das palavras não ditas não sabe o que está acontecendo dentro de nós, se há raiva, mágoa, tristeza, saudade, arrependimento. Ele provavelmente jamais saberá. E está tudo bem. Ele continua vivendo a vida dele, muitas vezes sem nem lembrar da situação passada, que tanto nos machucou. Não o culpe por isso. Não o culpe pelo que nos permitimos sentir.

Se sentimentos mal-administrados envenenam nossas almas, a responsabilidade pela gerência falha é total e absolutamente nossa. 

Claro que sempre parecerá mais fácil esconder o caos sentimental em nossas mochilas, fechar bem o zíper, colocar nas costas e seguir na ilusão de que, fora do alcance dos olhos, não mais machuquem o coração.   

Não importa se sua mochila é grande ou se seus ombros são fortes. Em algum momento o peso se tornará insuportável. Será necessário parar, ou a própria vida te fará tropeçar em suas escolhas.   

Nesse instante, a mochila será aberta. As feridas também. Toda sorte de sentimentos, dores e mágoas virão à tona. Será preciso decidir o que fazer com eles, pois a carga já não caberá mais em sua mochila.

Livre-se das culpas, jogue fora as mágoas, transforme a dor em criatividade, em sopro de vida. Os pés precisam voltar a caminhar.

Se a fadiga do peso e da viagem tiver lhe esgotado as energias, não tenha vergonha de pedir ajuda, nem que seja a terapia dos amigos em mesa de bar (não raras vezes mais eficiente que a profissional).

Não se esqueça, contudo, que sua mochila é sua responsabilidade. Definir seu conteúdo é uma tarefa solitária. Só você sabe o que consegue (e quer) carregar.

C.S.S., arrumando a bagagem mais uma vez.

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