A
palavra que precisava ganhar som, mas que permaneceu presa nos fundos
empoeirados e ressecados da garganta. A oportunidade perdida. O choro que não
conheceu a lágrima e apenas sufocou.
Perdi
as contas das vezes que me calei diante de situações que efetivamente me
machucaram. Elas aconteceram no trabalho, em casa, nos relacionamentos, na rua,
nos mais variados horários, através de palavras ou um simples olhar.
Muitos
estudiosos já alertaram acerca da importância de falar sobre sentimentos, de se
expressar. Dica óbvia, mas pouco factível. Pelo menos pra mim. Pelo menos para
aqueles e aquelas que, como eu, dificilmente conseguem raciocinar diante da dor
ou que, em momento de rara reflexão, mantêm as palavras em cárcere privado,
limitando-se a angustiar o peito e intensificar (ainda mais) o sofrimento.
Sofrer
não é exclusividade minha, nem sua. O que fazemos com nossa dor, isso sim pode
ser um diferencial.
Nossos
sentimentos estão conectados aos estímulos externos, não é novidade. O grande
problema acontece quando não estabelecemos a diferença entre o que o outro faz
e o que isso provoca em nós. O que é dito e o que compreendemos a partir disso.
O
possível destinatário das palavras não ditas não sabe o que está acontecendo
dentro de nós, se há raiva, mágoa, tristeza, saudade, arrependimento. Ele
provavelmente jamais saberá. E está tudo bem. Ele continua vivendo a vida dele,
muitas vezes sem nem lembrar da situação passada, que tanto nos machucou. Não o
culpe por isso. Não o culpe pelo que nos permitimos sentir.
Se
sentimentos mal-administrados envenenam nossas almas, a responsabilidade pela
gerência falha é total e absolutamente nossa.
Claro
que sempre parecerá mais fácil esconder o caos sentimental em nossas mochilas,
fechar bem o zíper, colocar nas costas e seguir na ilusão de que, fora do
alcance dos olhos, não mais machuquem o coração.
Não
importa se sua mochila é grande ou se seus ombros são fortes. Em algum momento
o peso se tornará insuportável. Será necessário parar, ou a própria vida te
fará tropeçar em suas escolhas.
Nesse
instante, a mochila será aberta. As feridas também. Toda sorte de sentimentos,
dores e mágoas virão à tona. Será preciso decidir o que fazer com eles, pois a
carga já não caberá mais em sua mochila.
Livre-se
das culpas, jogue fora as mágoas, transforme a dor em criatividade, em sopro de
vida. Os pés precisam voltar a caminhar.
Se a
fadiga do peso e da viagem tiver lhe esgotado as energias, não tenha vergonha
de pedir ajuda, nem que seja a terapia dos amigos em mesa de bar (não raras
vezes mais eficiente que a profissional).
C.S.S., arrumando a bagagem mais
uma vez.
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