sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Banho frio


Já estava saindo de casa quando o telefone tocou. De imediato, olhei o celular. Nenhuma mensagem ou ligação perdida. O que seria tão importante para se ter o telefone fixo como primeira opção?

Talvez uma tia velha ligasse informando a morte de um parente distante. Repassei mentalmente as obrigações financeiras que havia assumido naquele ano, poderia ser cobrança. Ou quem sabe um presidiário estivesse na linha, simulando o sequestro de um ente querido para extorquir o dinheiro que não tenho. Ente querido... Sorri de canto de boca, não tinha graça gargalhar sozinho. Pensei no meu pai. Depois de tudo que havíamos dito um ao outro, seria a velhice capaz de dissolver o orgulho?

Não mais que de repente, a água gelada de um chuveiro imaginário despencou sobre mim. Repleto de espasmos cardíacos, contraí os ombros e desejei que o telefone parasse em cada passo a ele direcionado.   

Por último, como sempre e pra sempre, o pensamento nela. Afinal de outra forma não haveria de ser as epifanias mentais dos apaixonados.

Voltei para fechar a porta, sentei-me no sofá. A conversa seria longa. Estava pronto para dizer não necessariamente o que precisasse ser dito, mas o que quisesse ser ouvido. A tal receita do perdão.

Atendi o telefone buscando a entonação perfeita para dialogar novamente com a felicidade. Era engano.

C.S.S.

2 comentários:

  1. Pequeno e conciso, ainda tem espaço para dar um belo drible... Ótimo! Gostei do blog, depois volto com mais tempo.

    Cristiano Deveras

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    1. Obrigada, haha! Que bom que gostou!

      Fico te esperando por aqui. ;)

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