quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

2017

É muito fácil amar o espelho. Cercar-se de pessoas com ideologia e comportamento semelhantes ao seu, afastar-se do diferente. E se isso não implicar em restrições ao direito do diferente, tudo bem. Exemplifico: uma diretora de escola pode proibir a entrada de pessoas com deficiência, de esquerda ou homossexuais na sua casa (ambiente privado), mas não pode negar matrícula à essas pessoas (que possuem igualmente direito à educação). Em resumo: "você pode ter todos os preconceitos do mundo, desde que não atrapalhe a vida do outro, que tem exatamente os mesmos direitos que você".

Entretanto, quando o diferente é seu filho, afastar-se fica ligeiramente mais difícil. Isso porque, presume-se, o amor que une mãe e pai aos filhos é forte.

Eu não sei o que é gerar uma pessoa dentro de si, vê-la nascer, crescer, ensinar-lhe coisas, cuidar dela, dar-lhe conselhos... Contudo, embora sem nunca ter tido essa experiência, eu tenho exemplos fantásticos em casa. Minha mãe e meu pai, cada um à sua maneira, me mostram diariamente o que é o amor incondicional. Há 28 anos conto com o cuidado e apoio deles em tudo que faço: mesmo não concordando sempre, a regra aqui é "você está feliz assim? Então está tudo bem, também estamos".

Em novembro do ano passado, um pai matou o próprio filho por diferenças ideológicas. Em dezembro, uma mãe matou o próprio filho porque ele era gay. No mesmo mês, um vendedor do metrô morre espancado ao defender uma travesti. Na virada de ano, um pai mata o próprio filho, a ex mulher e mais 10 pessoas. Isso porque cito apenas casos mais recentes e amplamente divulgados pela mídia. Muitos outros existem.

Três exemplos de pais tirando a vida dos próprios filhos e, no único exemplo de amor ao diferente, nenhuma relação de parentesco.

Não sei o que pensar ou dizer sobre isso. Sinto uma profunda tristeza. Mas não é só. Sinto também uma intensa vontade de transmitir tanto amor que me foi e é dado.

Que haja um escudo de amor para cada punho que se fechar em ódio.

C.S.S.

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