Tentou
esticar as pernas, sem sucesso. Concentrando os esforços nos braços, não
conseguiu ir além de pequenos movimentos – que logo incomodaram-lhe a cabeça,
inevitavelmente próxima do tórax flexionado. Onde quer que estivesse, aquele
espaço era visivelmente insuficiente para seu corpo.
Imobilizada,
voltou sua atenção para o líquido quente e viscoso que a cercava. Ato reflexo,
abriu os olhos. A escuridão permaneceu.
-
“Esse filho não é meu! Vagabunda!”, ouviu – e, sem a consciência de que ouvia
pela primeira vez, sentiu um tremor tomar conta de seu pequeno espaço. O tremor
veio acompanhado de mais sons desconhecidos, que dessa vez vinham de dentro,
reverberando pelo líquido viscoso.
Enquanto
seu corpo chacoalhava no ritmo dos soluços, sentiu algo esticar em sua barriga. Através de um negócio comprido que saía de seu umbigo, conheceu a tristeza.
Não sabia, mas também queria chorar.
Não
demorou para que a tranquilidade voltasse ao seu pequeno espaço. Estava prestes
a pegar no sono quando percebeu a aproximação de uma das paredes. – “Mamãe te
ama”, ouviu pela segunda vez, enquanto um calor diferente chegava pela parede
fina. Aproximou-se para sentir melhor o afago e – “Ela está chutando!” – ouviu pela
terceira vez.
Com
o passar das semanas – que nem sabia eram semanas e muito menos que passavam –
compreendeu algumas coisas: “dinheiro”, “pai da criança”, “aluguel” e
“desemprego” eram sons que geralmente vinham com o tremor que lhe entristecia; “mamãe”,
“ama” e “bebê” – seus preferidos – eram acompanhados pelo sempre bem-vindo
afago acolhedor; “estou feia e gorda”, “gases” e “tem um tamanho maior”, embora
corriqueiros, considerava irrelevantes.
Estava
já acostumada com aquele pequeno espaço – mesmo o sentindo menor a cada dia – e
não entendeu quando as paredes começaram a se movimentar de uma forma
desconhecida. No espaço que antes era completamente escuro, viu surgir uma
fresta de luz.
A
curiosidade venceu o medo e, no instante em que tentou tocar aquele feixe diferente
que se destacava na escuridão, puxaram-na para dentro (da luz) e fora (do
espaço).
Sem a
menor ideia do que estava acontecendo, sentiu algo entrar pelas suas narinas e
estufar seu tórax, não mais flexionado. Não tardou para que emitisse os já conhecidos
sons e tremores.
Suas
pernas esticaram-se e seus braços movimentavam-se, aflitos, sem saber muito o
que fazer com tanta liberdade. – “É menina!”, ouviu – enquanto
uma parede ainda mais fina, e sem qualquer líquido, envolvia seu corpo. O pânico
foi geral. Tudo o que ouvia era seu próprio som de tremor, cada vez mais alto.
–
“Ela é linda!”, disse a voz que lhe afagava, que agora saía de um buraco em movimento. Calou-se para não perder nenhum detalhe da voz familiar, que logo
começou a emitir o som de tremor. Não entendeu – mas aquilo não importava, pois estava novamente perto da voz e do calor que lhe acalmavam. Novamente sem
saber, conheceu o amor.
C.S.S.
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