quarta-feira, 12 de novembro de 2014

era pra ser


Luciana e Ricardo tinham gostos parecidos no essencial da vida. Moradores do Setor dos Funcionários, não nutriam grandes ambições, trabalhando dia e noite para pequenas conquistas. Até mesmo nas brigas – se um dia existentes – eles certamente saberiam fazer as pazes e se amar ainda mais. Teriam filhos lindos e inspirariam tantos outros casais.

Ainda sem se conhecer, Luciana e Ricardo eram almas gêmeas. Bastava uma apresentação, um olhar trocado, um esbarrão no metrô.

Não fosse a preguiça de Ricardo para acordar cedo aos domingos, não fosse a não ida de Luciana ao baile da associação de moradores, não fosse a troca de emprego e de linha de metrô de Ricardo, não fosse a jornada extra no trabalho de Luciana aos sábados para quitar o financiamento do apartamento, não fosse – talvez – o rancor do destino.

Morreram sem dar o primeiro beijo desajeitado em frente ao cinema mais antigo da cidade, não ficaram bobos com os primeiros passos de Ricardinho Júnior, não se encheram de orgulho na formatura em Medicina de Nandinha, não realizaram o sonho de conhecer Paris juntos. Morreram sem sentir a maravilha de dar as mãos e entrelaçar as almas.

Foram apenas dois corações repletos de amor a menos no mundo.

(fazer o quê, é a vida)

C.S.S.

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