quarta-feira, 26 de novembro de 2014

a espinha


Há uma espinha no noroeste de minha bochecha esquerda. Ela não é a única, nem será a última. Maldita acne hereditária que bombardeia – em toda a sua perversidade – o pouco de autoestima que ainda me resta. Sinto seu estado febril caminhar para o amadurecimento e nasce em mim a tentação incontrolável de espremê-la.

Não sou mais tão jovem – mostram os números impressos em minha certidão de nascimento. Como se eu não existisse antes deles, e como se eu morresse no exato momento em que dizem que fechei os olhos pela última vez. Nem tudo na vida cabe em combinações de 0 a 9. Os números mentem.

Talvez eu precise mais de corretivo do que meu rosto.
Talvez a juventude transborde os limites de minha pele.
Ou talvez eu viva uma puberdade tardia, dessas que afloram invisíveis nos corações daqueles que, por desatenção ou descaso de si mesmo, esqueceram-se de sonhar.

C.S.S.

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